
No início de um novo papado, alguns dos indicadores mais significativos da missão e da visão do novo Papa não provêm de discursos ou documentos, mas do simbolismo mais discreto do lema e do brasão por ele escolhidos. Estes sinais heráldicos e textuais oferecem uma síntese profunda do percurso espiritual pessoal do Papa e da mensagem que ele deseja comunicar à Igreja e ao mundo. No caso do Papa Leão XIV, ambos os elementos falam claramente de uma missão enraizada na unidade, na tradição e numa profunda continuidade teológica.
Um lema enraizado na unidade
O Papa Leão XIV conservou o seu lema episcopal: “In illo uno unum”, tirado de uma homilia de Santo Agostinho de Hipona. Traduzido, significa “Em Cristo somos um”.
Essa curta, mas poderosa afirmação é mais do que um ideal teológico; é uma declaração de intenções. Representa um apelo ousado à unidade e à comunhão na Igreja e no mundo. Antes da sua eleição, o então Cardeal Prevost descreveu o lema como central para a sua identidade de agostiniano: "Como agostiniano, para mim, promover a unidade e a comunhão é fundamental. Santo Agostinho fala muito da unidade na Igreja e da necessidade de a viver".
O brasão: uma síntese teológica
O brasão papal não é apenas uma tradição decorativa. Durante mais de oito séculos, os Papas utilizaram estas composições visuais para sintetizar os temas teológicos e pastorais do seu ministério. O brasão do Papa Leão XIV faz isso mesmo: entrelaçando elementos da sua herança religiosa e devoção pessoal com a missão universal do papado.
A superfície do escudo está dividida em diagonal e cada seção ostenta um emblema distinto. No topo aparece a flor de lírio branca sobre um fundo azul. Rica em simbolismo mariano, esta flor significa tradicionalmente a pureza da Virgem Maria e a sua Imaculada Conceição. O fundo azul evoca a sua dignidade real como Mãe de Deus. De uma forma mais sutil, as três pétalas da flor funcionam como um símbolo trinitário, sublinhando a relação única de Maria com a Trindade Divina: filha do Pai, mãe do Filho e esposa do Espírito Santo.
A parte inferior do escudo é uma referência direta às raízes agostinianas do Papa: um coração ardente repousa sobre um livro fechado, um ícone poderoso derivado da história da conversão de Santo Agostinho: “Traspassaste o meu coração com a tua Palavra”, escreve o santo dirigindo-se a Deus, e nesta imagem vemos a paixão pela verdade e pela Escritura que marcou a sua vida e que agora molda a visão do Papa Leão. Sobre o escudo repousa a mitra episcopal, marcada por três faixas horizontais unidas ao centro. Estas simbolizam o tríplice múnus do Papa: ensinar, governar e santificar, todos unificados no ministério pastoral do Romano Pontífice.
Por detrás do escudo, encontram-se as conhecidas chaves cruzadas de São Pedro, dadas pelo próprio Cristo, uma dourada que simboliza a autoridade celeste, a outra prateada que representa a jurisdição terrena. Juntas, recordam o eterno mandato evangélico: “A ti darei as chaves do Reino dos Céus, e tudo o que ligares na terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos Céus” (Mt 16, 19).
Uma missão em símbolos
Com palavras e símbolos, o Papa Leão XIV escolheu apresentar um papado enraizado na tradição, mas profundamente consciente da necessidade contemporânea de unidade. O seu lema e o seu brasão não são meras afirmações pessoais, mas indicações teológicas que apontam para o coração da sua missão: uma Igreja renovada na comunhão, enraizada na Palavra e guiada pelo exemplo da Virgem Maria e de Santo Agostinho.
No momento em que a Igreja inicia este novo capítulo da sua história, as imagens escolhidas pelo Papa Leão XIV recordam aos fiéis que cada papado, embora distinto, é, em última análise, a continuação da mesma missão divina de conduzir o povo de Deus a uma unidade mais profunda em Cristo.
Que Deus abençoe o ministério do Papa Leão XIV e que a Virgem Maria o proteja e guie sempre.